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Série Caminhos

Aline Arend

"De casa até a escola"

"De casa até o mercado"

"De casa até a sorveteria"

Livros-objetos

Ano: 2015

De casa até a escola - Série Caminhos, 2015. 22,5cm x 22,5cm x 2cm (caixa), 40cm x 40cm (mapa). Acervo da artista. Fotografia: Aline Arend.

De casa até o mercado - Série Caminhos, 2015. 22,5cm x 22,5cm x 2cm (caixa), 40cm x 40cm (mapa). Acervo da artista. Fotografia: Aline Arend.

De casa até a sorveteria - Série Caminhos, 2015. 22,5cm x 22,5cm x 2cm (caixa), 40cm x 40cm (mapa). Acervo da artista. Fotografia: Aline Arend.

Série "Caminhos"

 

Esta série trata de três livros intitulados "De casa até a escola", "De casa até o mercado" e "De casa até a sorveteria". Estes livros são em formato tipo fólio em caixa, que, de maneira geral, são denominadas por páginas soltas e com diferentes gramaturas e texturas dentro de caixas. No caso desta série, em cada caixa contém um mapa dobrado em quatro partes. O mapa é o mesmo em todas as caixas; o que os difere são os trajetos assinalados por linhas vermelhas diferenciando os caminhos.

O mapa é uma reelaboração e consequente representação da minha cidade-natal chamada Cunha Porã, uma pequena cidade situada no Oeste do Estado de Santa Catarina / Brasil. Neste lugar, nasci e vivi até os treze anos de idade. Os caminhos representam os lugares por onde, repetidas vezes, percorri durante minha infância.

Ao recordar a cidade, lembro-me dos caminhos que minha irmã e eu percorríamos para ir de casa para a escola e da escola para casa. Normalmente íamos pelo caminho da Avenida, era um pouco mais longo que o outro pelo qual também costumávamos ir. Caminhávamos três quadras e meia (o que parecia muito), mas a subida era menos íngreme e também compensava porque encontrávamos quase todos os amigos indo para a escola. Já o caminho de minha casa até o mercado, padaria e sorveteria era um pouco mais curto; eu ia a pé ou pedalando minha bicicleta. Não havia tempo ruim para andar de bicicleta, ainda mais quando ganhei do meu pai uma bicicleta de vinte e uma marchas: nunca gostei tanto de um presente como aquele. Depois de ganhá-la, “voava as tranças”
pela cidade, não tinha canto que não fosse. Acredito que seja por esse motivo que me recordo tão bem dos lugares, das ruelas, das casas vizinhas, dos bairros e do caminho longo até o clube onde eu e meus amigos íamos quase todos os dias de verão para tomar banho de piscina; após isso, retornávamos tarde da noite para casa. Segundo Ecléa Bosi (2004), “A cidade, como a história de vida, é sempre a possibilidade desses trajetos que são nossos percursos, destinos, trajetórias da alma” (BOSI, 2004, p. 75).

 

Vejo a cidade, seus lugares, seus cantos e personagens em minhas memórias e, a cada vez que os lembro ou forço-me a lembrá-los, percebo que a memória prega peças, há determinadas situações de que me lembro repetidas vezes, mas outras que surgem de repente como se estivessem guardadas em um armário por muito tempo, mas, quando surgem, a memória as incorpora como se sempre estiveram lá, e certamente estavam. O esquecimento também faz parte de nossas memórias. Bosi (2004) comenta que “As lembranças se apoiam nas pedras da cidade. Se o espaço, para Merleau-Ponty, é capaz de exprimir a condição do ser do mundo, a memória escolhe lugares privilegiados de onde retira sua seiva” (BOSI, 2004, p. 71).

Texto retirado da Dissertação "Memórias de Infância: pesquisa poética em artes visuais", pág 40, 48 e 49. Autora Aline Arend.

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